A etapa da WSL na África do Sul entra para a história com ondas fantásticas todos os dias e um padrão de surf nunca visto na WSL. O brasileiro Filipe Toledo extrapolou em todos os fundamentos, na base, na crista (“lip”) e até no ar.
MONTAGEM QUE PREPAREI COM A COBERTURA DE SUA VITÓRIA EM DIVERSOS SITES
IMAGENS DE KELLY CESTARI, STEVE SHERMAN, PIERRE TOSTEE... RETIRADAS DOS SITES DA SURFE NORDESTE, SURFAR, SURFLINE E DA EQUIPE DE FILMAGEM DA WSL
O insano floater que Filipinho aplicou na final (abaixo e a esquerda na imagem acima) ocorreu em um momento de chuva, tive que buscar nas filmagens da WSL e congelar a imagem, pois não encontrei fotos. O fato é que a performance de Filipe foi glorificada por todos os comentaristas, em especial pelo campeão mundial de 1977, o sul africano Shaun Tomson, primeiro surfista a varar a seção de Impossibles, surfando em direção ao Point final de J-Bay e seguindo até Albatross, a última seção da onda, que desemboca em um beach break, uma milha down the line. Shaun destacou que o segredo para surfar bem a onda de Jeffreys é a forma como o surfista lida com a velocidade, ao longo do percurso. Em 2017 Toledo era o que estava andando mais veloz ali. Isso reforçado até por depoimento de Mick “White Lightning” Fanning. E também pela cara que o contender ao título, Owen Wright, fez ao ver o replay da hoje famosa onda de Filipnho no telão. Quem não viu esta onda dele, busque na web e assista. Um absurdo.
No site da revista australiana Stab a chamada utilizava uma pergunta:
“Será que Filipe encadeou a melhor onda da história em um campeonato?” E ainda trazia outra aspas de Shaun Tomson.
“Foi uma das mais grandiosas ondas de competição que presenciei”, sobre a onda de Filipinho em que ele mandou dois aéreos (cada um – por si só – já poderia valer um 10) e ainda desferiu meia dúzia de belíssimas rasgadas no inside.
RECORTE DO SITE WAVES COM FILIPE SENDO CARREGADO RUMO AO TOPO DO PÓDIO
IMAGEM CAPTURADA DO FACEBOOK DE PIU PEREIRA, EX-ATLETA DA ELITE, COM A SUA OBSERVAÇÃO E AINDA PITACOS DO DR. JOEL STEINMAN E DO PROFESSOR CHICO PAIOLI
FILIPE TOLEDO COM UM TROFÉU QUE DAQUI A DÉCADAS SERÁ LEMBRADO COMO UMA DAS PERFORMANCES MAIS ARRASADORAS DA HISTÓRIA DO SURF MUNDIAL
IMAGEM CAPTURADA DO REMODELADO SITE DO RICOSURF
O que acho importante destacar aqui é a performance geral de Filipe nesta etapa, uma das que, em toda a história da IPS (1976\1982) - ASP (1983\2014) - WSL (2015...), pode ser considerada de ondas excepcionais, com diversos atletas surfando em alto nível, quase dez notas 10 auferidas. Uma etapa para ser colocada no nível do campeonato de Bells Beach vencido por Simon Anderson em 1981, ou da etapa francesa Quiksilver Pro com uma final entre os irmãos Andy e Bruce Irons em ondas imensas e perfeitas em La Nord, ou do evento Rip Curl The Search, realizado no México, ou ainda do Volcom Fiji Pro de 2012 e... Também da etapa Billabong Pro Tahiti de 2014, vencida por Gabriel Medina.
CAPA DA REVISTA HARDCORE NÚMERO #299, GABRIL MEDINA EM TEHUPOO
FOTO: TOM SERVAIS
A teoria que desejo lançar nesta postagem é que a fase pela qual passa o surf brasileiro profissional de elite é realmente extraordinária. É como se estivéssemos vivendo um legado tipo de Fittipaldi, Piquet e Senna. Só que agora no surf. Medina também foi dominante nesta etapa excepcional de Teahupoo e os brasileiros têm chegado junto e com força em qualquer cenário. A ponto de fechar uma final verde amarela em Pipeline no ano de 2015 (pena) com ondas mais ou menos.
Vejam agora como está o ranking atual da WSL, com 3 brasileiros entre os TOP 10. Acredito que o título desta temporada ficará com um dos 9 primeiros do ranking. Reservo uma remota possibilidade para Fanning (11º) atacar os líderes.
Vamos dar uma passada pela atual situação dos 9 brasileiros que disputam na elite em 2017, com imagens apenas desta etapa de J-Bay.
ADRIANO DE SOUZA - 5º COLOCADO APÓS J-BAY
Adriano de Souza começou a se colocar entre os TOP 5 com consistência a partir de 2009. É o mais experiente dos brasileiros na elite e deve finalizar este ano de forma consistente, objetivando mais um título.
FILIPE TOLEDO - 7º COLOCADO
A suspensão de Filipe em Fiji vai funcionar como um “jump” para ele após a etapa da França, quando será o único dos postulantes ao título que vai descartar um 0 (zero) pontos. E vai continuar no foco, estejam certos.
GABRIEL MEDINA - 9º COLOCADO
Gabe não vai passar um ano sem vitórias na WSL, talvez duas? O surf dele está afiado como sempre e as etapas que se aproximam são altamente favoráveis a seu estilo. Aliás, Medina hoje, excede em qualquer terreno.
CAIO IBELLI - 16º COLOCADO
Uma das características de Caio é surfar bem ondas maiores, com uma linha limpa, precisa e um ataque seguro. Seu surf está encaixado nos padrões da WSL e sua inteligência competitiva é um fator “x”.
ÍTALO FERREIRA - 22º COLOCADO
A vitória em um evento da elite ainda não veio. O vice-título no Mundial Pro Junior também foi um detalhe, foi o melhor no evento de 2014 mesmo perdendo para o local Vasco Ribeiro. Ítalo tem um título da Abrasp.
WIGGOLLY DANTAS - 25º COLOCADO
Portador de um estilo vistoso e sólido, Wiggolly não alivia em seu espetacular ataque de backside, moldado nas consistentes direitas de Itamambuca. De front graduou-se nos tubos de Pipe. Surfista completo.
IAN GOUVEIA - 26º COLOCADO
A linhagem Gouveia de tuberider instintivo fica cristalina no surf de Ian, seja de front, ou de backside. Podemos dizer que Ian Gouveia mistura ingredientes de Fabinho e Occy regados com boas doses de modernidade.
MIGUEL PUPO - 32º COLOCADO
FOTO: STEVE SHERMAN
Miguel Pupo ainda não teve uma temporada contundente, saindo de forma confortável da linha de corte. A famosa onda de Pipeline trouxe comparações a Lopez. Sua linha é linda. Está devendo um pódio no WCT.
JADSON ANDRÉ - 32º COLOCADO
FOTO: STEVE SHERMAN
Jadson já foi protagonista de uma vitória marcante sobre Kelly Slater em Imbituba. Em 2014 jogou bonito para disputar, contra John John, uma final na França em ondas de “responsa”(bilidade). Valioso guerreiro.
O fotógrafo Steve Sherman de San Diego, ou o australiano Peter “Joli” Wilson, acompanham o surf profissional por décadas e têm retratos cheios de sensibilidade dos surfistas em seu ambiente. As fotos em preto e branco de Sherman são verdadeiras obras de arte. Mas continuando nossa saga do surf brasileiro no World Tour vamos buscar a raiz da tempestade. E constatar também que a “Brazilian Storm”, não está dando sinais de que vai arrefecer, basta olhar o atual ranking do WQS da WSL bem agora nesta metade da temporada 2017, com três brasileiros na cabeça.
Vou mais longe, no passado, buscando a reprodução de uma matéria que fiz para a edição de 15 ANOS da revista Hardcore, com um levantamento de toda participação brasileira na segunda era de profissionalismo, capitaneada por Fabio Gouveia e Teco Padaratz.
Estou atualizando estas informações para meu livro que deve começar a ser lançado (em 5 VOLUMES) a partir do final deste ano.
REPRODUÇÃO DA REVISTA HARDCORE #176, ABRIL DE 2004
NA CAPA, BINHO NUNES
FERNANDO DE NORONHA
FOTO: JAMES THISTED
Analisem os detalhes, os novos surfistas que foram entrando no cenário a cada ano e também o brasileiro que ficou melhor colocado na ASP ao final de cada temporada. Victor Ribas deteve por 15 anos a hegemonia de um terceiro posto, desde 1999, até a vitória de Gabriel em 2014. Se não conseguirem ler aqui no blog, baixem a imagem e ampliem que dá para ver todas estas interessantes informações.
Busquei ainda uma reprodução de página da Brasil Surf na edição de Março\Abril de 1978, que trazia o ranking final de 1977 na IPS, com três brasileiros constando entre os 60 melhores. Daniel Friedmann venceu o Waimea 5000 de 1977, em seguida houve uma lacuna de vitórias brasileiras na WSL que durou até 1990, quando Fabinho sai vitorioso no Hang Loose Pro Contest realizado no Canto do Maluf, em Pitangueiras, no Guarujá.
2/3 DE UMA PÁGINA INTERNA DA BRASIL SURF – ANO 3 – N. 4
O ENUNCIADO DA LEGENDA DEVE SER CORRIGIDO, POIS O RANKING É DE 1977, ESTA EDIÇÃO FOI PARA AS BANCAS EM MARÇO DE 1978
DANIEL FRIEDMANN APARECE EM 21º, RICO DE SOUZA EM 42º E CARLOS MUDINHO EM 56º, NO TOPO, A IMAGEM DE AÇÃO É DE SHAUN TOMSON
CAPA DA EDIÇÃO, QUE TRAZIA PEPÊ LOPES SURFANDO NO QUEBRA-MAR DO RIO
FOTO: NILTON BARBOSA
Existe toda uma linhagem do surf profissional brasileiro, que passa por Pepê e Daniel campeões dos anos 1970, cresce a partir de 1988, quando Gouveia venceu o Mundial Amador de Porto Rico e culmina com a Brazilian Storm da década de 10.
A lacuna de eventos internacionais em nossas águas de 1982, quando o Waimea 5000 parou, até 1986, quando o Hang Loose Pro Contest trouxe de volta o circuito (na época ASP) para o Brasil... Foi fatal. Corremos atrás de paridade com os melhores do mundo por muito tempo, Gouveia, Padaratz, Vitinho e Peterson Rosa se encaixaram entre os TOP 10 ao final de uma temporada, mas nunca chegamos a brigar forte por um título da ASP.
Isso começou a mudar na atual década. O ano de 2011 foi emblemático para o surf brasileiro com as três vitórias de WCT seguidas no final do ano. Medina na França e São Francisco, intercaladas pela vitória de Mineirinho (sobre Kelly) nas melhores ondas que já quebraram em Portugal, evento que dava para ser encaixado naquela lista acima e vencido por um brasileiro TAMBÉM. Some a isso as vitórias do primeiro semestre em eventos Prime do QS de Medina em Imbituba e Miguel Pupo em Trestles. O ano de 2011 foi a formação da tempestade, aquele vento frontal que entra forte e prenuncia a mudança.
Só que o fenômeno “Tempestade Brasileira” nunca mais parou. Em 2014 veio o título de Gabriel Medina. Em 2015 o bi, fechando a temporada com barba, cabelo e bigode – Triple Crown, Pipe Masters e Título Mundial. O Brasil foi alçado ao panteão das grandes potências do surf mundial e tem mais a caminho. A imagem abaixo, recortada do post show da WSL, mostrando as maiores pontuações do Corona Open J-Bay, com a vitória I N C O N T E S T Á V E L de Filipe Toledo é mais um atestado.
Hoje os brasileiros são protagonistas nas etapas com as melhores ondas. Este Corona Open 2017, um evento épico para os anais da história do surf, da mesma forma que a vitória de Occy em 1984, único goofy a vencer em J-Bay, ou a eletrizante final de 2005 entre Andy Irons e Kelly Slater. Vale lembrar ainda que em 2000 Peterson Rosa fez uma final contra Jake Paterson em J-Bay e que em 2012, Adriano de Souza venceu um QS com excelentes ondas nos dias iniciais, com John John e Jordy disputando e ficando pelo caminho e que embora a final contra o francês Joan Duru tenha ocorrido em ondas mexidas, a garra de Mineirinho foi preponderante, para buscar um resultado marcante nos minutos finais.
Agora vamos para o Billabong Pro no Tahiti. A história continuará a ser escrita. Porém, antes disso, mandarei uma postagem “das antigas” aqui neste blog, que anda em paralelo com o projeto cultural do livro
“A Grande História do Surf Brasileiro”.
SAIBA MAIS EM:
WWW.HSURFBR.COM.BRFonte:
Blog do Dragão - HISTÓRIAS DO SURF: I N C O N T E S T Á V E L Blog do Dragão - HISTÓRIAS DO SURF: I N C O N T E S T Á V E L